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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Final de ano, férias e Biblioteca: agende-se!

A sede de saber não tira férias!

"O livro é uma extensão da memória e da imaginação."
(Jorge Luis Borges)

Estamos chegando ao fim de mais um semestre letivo na Universidade e com ele,
as festividades de final de ano e férias escolares.
Fique atento aos horários especiais de funcionamento da Biblioteca nesse período!

De 27/12/2010 a 08/02/2011:


Geral - 8h às 18h
Empréstimo, renovação e devolução de publicações - 2ª a 6ª - 8h às 17h 50min
Seção de Periódicos - 2ª a 6ª - 8h às 17h 30min
Seção de Multimeios - 2ª a 6ª - 8h às 17h 50min
Estação de Pesquisa - 2ª a 6ª - 8h às 17h 50min
Reprografia - 2ª a 6ª - 8h às 17h


Atenção: De 06/12/2010 a 08/02/2011 a Biblioteca será fechada aos sábados!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Festa para Mauro Mota

Estátua de Mauro Mota na Praça do Sebo, Bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.


Mauro Ramos da Mota e Albuquerque, nosso Poeta Mauro Mota. Pernambuano de Nazaré da Mata, professor, jornalista, cronista, ensaísta e memorialista brasileiro. Um homem de memórias, suas e nossas. Nas suas letras imprimiu nossos cheiros, gostos, tatos... doces imagens da doçura açucareira de nossa região. Retratos de nossa gente, povo de caule doce e folha navalhada, talvez pela presença sinestésica da cana-de-açucar. Mauro com seus olhos de poeta sobre todos seus outros ofícios, nos viu e nos cantou em prosa e verso.

Para o centenário de seu nascimento, 2011 trará festas, ainda mais reconhecimento e homenagens é o que nos garante Marly Mota, artista plástica, cronista, articulista e viúva desse grande homem, em entrevista concedida à Revista AlgoMais, nº 57.

Por agora, vamos começar nossa homenagem à este grande poeta pernambucano, relembrando alguns de seus poemas:

HUMILDADE

Que a voz do poeta nunca se levante
para ter ressonâncias nas alturas.
Que o canto, das contidas amarguras,
somente seja a gota transbordante.
Que ele, através das solidões escuras
do ser, deslize no preciso instante.
Saia da avena do pastor errante,
sem aplausos buscar de outras criaturas.

Que o canto simples, natural, rebente,
água da fonte límpida, do fundo
da alma, de amor e de humildade cheio.

Que o canto glorificará somente
a origem, quando mais ninguém no mundo
saiba ele de quem foi ou de onde veio.


CHEIROS

O cheiro dos jasmins, do cajueiro, da alfazema,
da cozinha (café torrado, charque assada)
o cheiro de Lindalva,
(banho de chuveiro, sabonete)
do peixe frito na esquina do Colégio,
da loção do cabeleireiro José Mateus,
do extrato no lenço do almofadinha Jonas Garcia.

MUDANÇA

Não ficam na mudança nem o pé de sabugueiro e o cheiro dos cajás,
os passos da mãe no corredor, a noite,
o medo do papa-figo, as sombras na parede.

A casa inverte a missão domiciliar, sai da rua.
A casa agora mora no antigo habitante.


TRÂNSITO

Prisioneiro das lajes
e do musgo,
ainda percebe o trânsito
nas ruas.
Tem um instante só de
visão póstuma
para ver como a vida
continua.

CACTO

Insólito, agressivo,
de pudor botânico:
cacto.

Espantalho
da chuva,
bandido xerófilo,
multiapunhalante.

Mãos ásperas
lixam o tempo.

A língua
dura e espinhenta
lambe e fere
o ígneo vento.

Cacto de aço
verde árido.
Mas
com o pranto nas raízes
e o impacto cromático
da flor cactácea
que se
abre neste mormaço.


CHUVA


Chove. Parece que o Recife nada.
Mas Anacleto, atravessando a rua,
Pensa que todo esse aguaceiro urbano
Somente cai sobre o seu guarda-chuva.


PASTORAL

Não disse de onde veio. Apenas veio
quase flutuante pela madrugada.
A flauta e um zelo musical em cada
ovelha e em todas do seu pastoreio.

Toca. (Para o rebanho?) A sua toada
interrompe-se às vezes pelo meio.
Dela não quer somente o vale cheio:
quer levá-la mais longe. Quando nada

houver mais dos cordeiros e dos pastos,
do viço matinal, dos brancos rastos
de lã, dos guizos de uma ovelha incauta,

fique a lembrança do pastor fugace,
que foi pastor só para que ficasse
nas colinas a música da flauta.


CERCAS
("Deus criô a terra para todos. Eles viero e cercaro tudo." - Do depoimento de Lua Branca, cangaceiro de Lampião)

I

Cercaram tudo. Só a gente
nem sabe mais onde mora,
não tem para onde ir embora.
Cercado, o mundo é o mundo
sem lado de fora,
sem brecha nem beira,
mundo dentro da gaiola.

A cerca da Mata mata,
seca a cerca do Sertão,
só fica preso o vivente
quando explulso da prisão.
Prisão de plantas e bichos,
de casa, roupa e meizinha,
prisioneiro até o chão.
Só tem almoço e ceia
quem como a própria fome
ou quem está na cadeia
de muitas grades,
que impede,
em vez de saída, a entrada.

II

Ô mundo de muitas cercas
feitas pelos coronéis,
cercas nos canaviais,
nas frutas de vez nos pés,
cercas no milho e no arroz,
no feijão e nos currais
nos bois capados na engorda,
desgraçadamente bois.

Na ponta da corda, o laço,
Laça a vaca e o leite,
o queijo, o vaqueiro,
a melancia, o umbuzeiro,
o ingá, o bode, o terreiro,
tudo cai no laço.

III

De arame ou cipó vamos desatar o nó.

IV

Os cachos de buganvílias
rebentam nos paus-a-pique.
o toque dos chocalhos
diz o boi para onde foi.

De primeiro, era a arapuca
de pegar as rabaçãs.
O canto delas anuncia
que ninguém cerca a manhã.


O GALO E O CATA-VENTO

Pousa no topo da haste como peça
branca do cata-vento, na cumeeira
da casa. O cata-vento gira, e o galo
mudo, esculpido em folha, só, no aéreo

poleiro, também gira, gira, gira.
Ventos catados pelo cata-vento
tentam levá-lo. O galo, todavia,
não vai. (Come as rações da ventania.)

Permanece trepado no mirante.
Estica, às vezes, o pescoço de aço
- para aonde? Cago e preso, pelo espaço

o que procura? Espreita a madrugada
em, que lhe possam rebentar o canto
e o vôo metalúrgico das asas.

Tarefa difícil selecionar poemas dentre tanta poesia... para os que gostaram e querem mais, a Biblioteca da Católica possui várias obras do autor, verifique o nosso catálogo e boa leitura!
Lembramos que até o dia 22/12/2010, o acesso à Biblioteca está restrito ao corpo discente, docente e funcional da UNICAP.